O Criciúma passou o ano de 2017 estagnado. Segue sem títulos desde 2013, sem acesso e com a moral perante o torcedor cada vez mais em baixa. Diferente de 2016, quando ainda ameaçou conquistar o título estadual (lembremos que o Tigre chegou na última rodada do 1º turno com chances) e até ficou algumas rodadas no G4 da Série B, o tricolor foi mero coadjuvante nos torneios em que participou em 2017.
A intenção aqui não é cobrar títulos ou vitórias seguidas, porque todos os times que disputam os campeonatos querem isso. A pretensão maior é provocar: o Criciúma foi competitivo nesta temporada? Conseguiu disputar de igual para igual com os principais times dos respectivos torneios? A resposta me parece clara.
Com intuito de aprofundar mais este assunto, elenquei três erros capitais do Tigre neste ano, situações essas que reduziram as chances de ir a algum lugar na temporada que já se findou. Vamos a eles:
– Contratação de Deivid
Antes de qualquer argumento, gostaria de dizer que considerei o trabalho de Deivid bom. Só que há uma série de questões que fogem do controle dele, e passam muito pela cultura local.
Por mais que se cobre jogo bonito, futebol de toque de bola e tudo mais, Criciúma é uma cidade que gosta de uma prática mais insana. Você pode ser o jogador mais técnico do universo, se não sujar o calção com carrinhos desmedidos na lateral do campo, não será valorizado pelo torcedor.
Deivid veio com ideias interessantes, mas que claramente não havia maturidade da torcida para aceitar, tampouco da imprensa para entender. Um time que atue com linhas altas, com saída de bola pelo chão e abertura de espaços através do toque de bola não se forma do dia para a noite, tampouco em cinco meses, período em que ficou no comando técnico do time. Some a isso ao período em que o mesmo elenco ficou nas mãos de Roberto Cavalo, técnico de ideias totalmente opostas, com jogo mais físico e conservador.
Repito: considerei o trabalho bom, mas, diante do choque de culturas que estava propondo, ficou claro o erro que foi trazê-lo. Talvez o presidente Jaime Dal Farra estivesse achando que poderia, de fato, promover essa mudança cultural no jeito do jogar do time, mas que desse respaldo total, então. Como não houve, ficou nítido que se tratou mais de um tiro na água.
– Desequilíbrio do elenco
Não quero entrar no mérito da qualidade das peças do elenco, mas sim na quantidade delas. Algumas posições, como a zaga e a faixa central de meio-campo estavam bastante recheadas, só que outras, como o ataque e a armação forneciam escassas opções.
O problema maior, porém, foi a péssima gestão de laterais-esquerdo. Lembremos que o Criciúma encerrou 2016 apenas com Marlon na função. A atual temporada começou da mesma forma, mas já com uma sensação clara: mais cedo ou mais tarde, Marlon sairia.
Antes de o garoto rumar para o Fluminense, o zagueiro Diego Giaretta assumiu a posição. Yuri, que veio do Botafogo, nem jogou e foi embora, enquanto Márcio Goiano não rendeu quando entrou em campo e logo foi dispensado. Por fim, o Criciúma jogou a Série B inteira com o zagueiro na lateral.
Superficialmente, o estrago não pareceu tão grande porque a campanha em si foi ruim, mas foi notório como Giaretta não possuía nenhum cacoete para a função. Lento para atacar e sem senso de posicionamento para o local, o “zagueiro-lateral” foi o mapa da mina da maioria dos adversários.
Foi, no mínimo, uma insensatez da diretoria acreditar que subiria para a primeira divisão sem ter sequer um lateral-esquerdo de ofício.
– Vinda de Edson Gaúcho
Há quem diga que a solução do Criciúma era um diretor que desse soco na mesa e gritasse com qualquer um que lhe desejasse bom dia em uma segunda-feira chuvosa. Corre essa lenda urbana e já ouvi várias e várias vezes. Pois então, essa figura era Edson Gaúcho.
Entretanto, o técnico campeão brasileiro da Série B em 2002 afundou o time 15 anos depois. Autoritário, centralizador e desconectado da realidade, Edson chegou com um discurso otimista de acesso, mas comprou briga com os jogadores e ainda tomou a atitude que enterrou qualquer chance de acesso: demitiu Luiz Carlos Winck na primeira instabilidade que encontrou – que talvez tenha sido a grande lambança do ano.
No fundo, seu retorno ao clube foi apenas para servir de escudo para um exposto presidente. Conseguiu cumprir bem esse papel, já que sua chegada marcou o início da derrocada carvoeira, acumulando tumulto de ambiente, demissão contestável e maiores problemas dentro de campo.
Todos estes erros foram bem brutais e ajudaram a sacramentar a decepcionante temporada criciumense. Que Dal Farra aprenda com eles e saiba a ter convicções, confiando nelas até o fim, guiando o Criciúma a um lugar no sol.