A pandemia do novo coronavírus afetou a saúde mental de pessoas de todas as idades, aumentando também a procura por profissionais, como psicólogos e psiquiatras
Atualmente são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se da triste realidade em que vivemos, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens.
Aproximadamente 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias. Atualmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. Todos os dias, pelo menos 32 brasileiros tiram suas próprias vidas.
Durante a pandemia do novo coronavírus o número de casos aumentou, assim como a procura por profissionais relacionados a saúde mental, como psicólogos. “É considerável que com a pandemia a saúde mental ficou mais vulnerável. No início era o medo de se contaminar pelo vírus e vir a morrer de uma hora para outra, depois vieram as demissões, as jornadas de trabalho reduzidas, e consequentemente a falta do dinheiro para as necessidades básicas”, mencionou a psicóloga Alessandra Martarello.
A pandemia afetou a saúde mental de pessoas de todas as idades. “Crianças e adolescentes com tempo de sobra, não conseguindo acompanhar as ditas ‘tarefas escolares’, os pais preocupados com o futuro e a falta de dinheiro aumentando. O Covid-19 passou a ficar quase que em segundo plano, porém ainda está ali, assustando, pondo medo, aterrorizando também os idosos”, comentou Alessandra.
O medo que antes era só dá contaminação, passou a ser o medo do futuro. Não sabemos como será o amanhã, não conseguimos fazer planos para o final do ano, por exemplo. A sensação de insegurança, dê não saber qual deverá ser o próximo passo, vem fazendo com que os transtornos mentais floresçam, tornando a saúde mental ainda mais frágil.
“A depressão, o Transtorno de Ansiedade Generalizada e o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), vieram como uma avalanche. As pessoas não estão sabendo lidar com todos esses sentimentos e emoções, e acabam concluindo que o suicídio seria a melhor saída. Tem também um outro fator bem importante, o medo de se infectar e transmitir o vírus para seus entes queridos, e consequentemente a morte”, apontou a psicóloga.
Setembro Amarelo
Com o intuito de prevenir o suicídio, a campanha Setembro Amarelo faz o alerta à população. O projeto teve início no Brasil, em 2015, pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). As primeiras atividades realizadas pelo Setembro Amarelo aconteceram na capital do país, Brasília. Entretanto, já no ano seguinte outras regiões aderiram ao movimento e também participaram.
O principal motivador que influencia as pessoas a pensarem no suicídio é a depressão, uma doença crítica. “Sempre devemos ligar um sinal de ‘alerta’ quando começamos a apresentar diminuição de nosso rendimento nas atividades habituais e diárias, com consequências concretas na maneira como nos relacionamos com família, amigos e trabalho de maneira geral”, citou o médico psiquiatra da infância e adolescência Giovani Rizzo.
Mudanças no comportamento podem indicar início de uma possível depressão, segundo a psicóloga Camila Goularte CRP 12/18721 essas mudanças podem ser:
- Antes gostava de sair e socializar e agora se isola;
- Evita sair sem motivo aparente;
- Sensação de vazio;
- Tristeza profunda;
- Choro;
- Sono em excesso ou falta de sono;
- Evita situações onde antes lhe deixavam feliz;
- Alimentação em excesso ou a falta de vontade de comer.
“Esses são alguns dos sintomas onde percebemos que algo mudou na vida da pessoa, porém é necessário que essas situações se repitam tanto nos seus relacionamentos, quanto no trabalho ou prazeres pessoais e num período maior que dias ou semanas”, completou a psicóloga.
É preciso prestar atenção e estar sempre notando o comportamento de pessoas mais próximas. “Primeiro é necessário compreender que essa tristeza profunda não é besteira, assim como entender que realmente a pessoa depressiva não vai ter vontade de fazer as coisas, não é por besteira, é por falta de ter esse impulsionamento e a vontade de reagir e pensar positivo. Uma sugestão é aceitar que é um problema e precisa ser tratado, porém, também respeitar o tempo da pessoa depressiva. Se ela não quer sair para grandes encontros, comece pequeno, uma volta na mercearia por exemplo. Se não deseja levantar da cama, crie uma situação onde ela precisa ao menos se locomover até a sala pois isso já gera um impulsionamento nela”, explicou Camila.
Ajuda profissional
A melhor forma para evitar um suicídio é por meio de diálogos e discussões que abordem o problema, tentando auxiliar e incentivar as pessoas a buscarem ajuda, tanto de pessoas próximas como de profissionais como psicólogos.
É importante a procura de um profissional, muitas vezes também é necessário que o familiar acompanhe a pessoa nas consultas, pois ela precisa de alguém ao seu lado para lhe passar forças e boas energias e buscar pela recuperação.
“O mais importante pra família que tem algum familiar com depressão grave com ideação suicida é entender sobre a doença e sua gravidade, dando o máximo de apoio emocional, acompanhando em consulta e provendo todos os cuidados até sua melhora conforme orientação médica. É essencial tentar entender o quão grande é o sofrimento da pessoa que está com um transtorno mental capaz de fazê-la pensar em não querer mais viver”, alertou o médico psiquiatra Giovani.
Mesmo sem possuir indícios ou sintomas de depressão, se houver alguma necessidade de buscar o apoio profissional, não hesite. O especialista ajudará a lidar com as situações que muitas vezes nem percebemos. Com esse incentivo por buscar ajuda consegue-se solucionar os problemas sem antes entrar em um estado crítico.
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CADU VIEIRA, JATENE MACEDO E LARISSA WITT – JORNALISMO SATC