Véspera, de Carla Madeira, é um livro que surpreende a cada capítulo. A história começa quando uma mãe, em um momento de desespero ou loucura, abandona seu filho de apenas cinco anos em uma rua movimentada e quando se arrepende, depois de poucos minutos, tem dificuldade de chegar até ele. E quando chega no local, o menino sumiu e a leitura vai mostrando essa busca desesperada e as lembranças dessa mulher de todas as vésperas desse dia.
Mas então a autora nos conduz para outra história, a dos irmãos gêmeos Caim e Abel desde antes de nascer até se tornarem adultos e terem filhos. Só ter estes nomes já é de esperar algum tipo de problema extra na vida e a mãe tentando retardar e amenizar o que iriam enfrentar, pode ter trazido traumas ainda maiores.
Caim e Abel, Abel e Caim… Tão diferentes e mesmo sendo criados para serem unidos, ser um ou outro, cada um formou sua personalidade. Vedina e Veneza, amigas inseparáveis que a vida também tratou de dificultar. Custódia e Antunes, um casal com suas diferenças, desejos e crenças individuais que tiveram suas dificuldades no relacionamento. A autora criou personagens fortes, marcantes que se destacam tanto quanto os protagonistas. É possível sentir o que estão sentindo e, algumas vezes, difícil entender ações e sentimentos.
Como pais dão estes nomes a seus filhos gêmeos? A autora explica isso também e as consequências dessa atitude. Como uma mãe abandona seu filho na rua? Toda a história leva a essa ação, qual foi a gota d’água. E o que acontece depois desse segundo do maior erro da vida dessa mulher? Capítulos são dedicados a essa continuidade.
Como foi a vida de Caim e Abel na infância, em casa, na escola, com amigos, estudos, família, adolescência, relacionamentos, casamento e também dos outros personagens que fazem parte da vida de cada um. Carla Madeira construiu uma obra interessante, sensível, delicada e que ao terminar a leitura poderia sim, ter muito mais, mas que deixa no ar aquela sensação, aquela imaginação querendo criar mais vida a todos eles.