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O sintoma da depressão do qual ninguém fala

ALESSANDRA MARTARELLO ALVES
ALESSANDRA MARTARELLO ALVES

O que acontece quando nada mais te distrai? O que acontece quando você sente que não há nada importante a fazer? O que acontece é que você deixa de se sentir útil e isso é muito perigoso. Existe um sintoma da depressão que raramente ou nunca se ouve falar. O tédio crônico. “Estar entediado é beijar a morte”, disse o escritor Ramón Gómez de la Serna.

É comum sentir-se entediado de vez em quando, e para falar a verdade, esse tipo de emoção é até útil, já que ele nos estimula a mudar. Agora, quando esse tédio passa a ser crônico, o risco de sofrer de transtorno depressivo aumenta, bem como a ansiedade e até levar a pessoa a vícios de substancias (álcool, drogas), ou vícios comportamentais como o jogo, por exemplo. Embora para a maioria das pessoas o tédio seja um sentimento passageiro e trivial, há quem viva preso nele

Não é fácil defini-lo e até preveni-lo. Pode-se ter boas ferramentas básicas e uma atitude altamente resiliente, mas às vezes certas experiências, e até mesmo o contexto social, podem nos destruir. Segundo dados da OMS, quase 3,8% da população lida com essa condição. Embora os números possam ser maiores, pois nem todos procuram ajuda e recebem um diagnóstico.

O tédio “normal” não é uma sensação aversiva de cansaço, inquietação e frustação, o que pode ser muito prejudicial se isso tornar-se crônico.

A pessoa quando está entediada, deixa de ter incentivos em seu dia a dia, o alerta está quando aos poucos ela passa a se sentir desconectada de sua realidade. E a direção que esse estado emocional leva por ser problemático. A depressão vai além de um rosto borrado pela tristeza, pela desesperança ou pela necessidade de isolamento. Existem fatores que compõem esse transtorno mental e que muitas vezes ignoramos.

É de suma importância esclarecer um detalhe. O tédio por si só não nos fará sofrer de um distúrbio psicológico e/ou transtorno mental. Múltiplos fatores contribuem para gerar o transtorno depressivo, como angústia, desesperança, negatividade, culpa, insônia, distúrbios alimentares, genética, alterações dos neurotransmissores e etc.

Quando uma pessoa não gosta mais daquilo que antes fazia com prazer e não encontra nada interessante para fazer, acaba duvidando do seu lugar no mundo. De sua importância nele. Essa visão é uma linha vermelha que nunca devemos cruzar, pois é nesse momento que somos assaltados pela perigosa ideia de que esta vida não tem sentido.

Apatia, anedonia e abulia são os três elementos em que o tédio crônico está presente. Ou seja, o que se experimenta é a ausência de prazer, perda de interesse e motivação e impotência para realizar qualquer tarefa. É um sentimento difuso e opressivo em que a pessoa sente que sua vida está completamente estagnada.

Tédio Existencial, Quando Duvidamos De Nossa Importância No Mundo

“O que estou fazendo aqui, qual é o meu papel, o que devo fazer agora?”. A pessoa que lida com a questão de um problema de saúde mental se faz perguntas constantes. Essas perguntas são cheias de veneno, porque corroem e desanimam ainda mais. Além disso, aumentam ainda mais o desespero.

O sintoma da depressão sobre o qual não falamos muito é mais importante do que pensamos. E os jovens, por exemplo, estão cada vez mais entediados. As novas tecnologias e as redes sociais submetem-nos a um estado de sobrecarga de estímulos em que é muito fácil sentir-se sobrecarregado e também apático.

Aos poucos, suas realidades deixam de ter estímulos novos e, se somarmos a isso um futuro incerto, é comum que em algum momento desenvolvam um transtorno de ansiedade ou depressão. O que fazer nesse cenário? Como agir? Vejamos algumas estratégias:

Procure apoio com os seus próximos, comente com seus amigos, parceiro ou familiares como você se sente. Explique seus sentimentos de vazio e tédio. Esclareça que não é algo pontual, mas que esse sentimento é constante e que você se sente cada vez pior.

Solicite apoio psicológico. Inicie novas atividades e reformule seus objetivos. Você deve procurar novos incentivos. É verdade que pode ser difícil, que quando a apatia o torna cativo é difícil encontrar novos motivadores. No entanto, nada é mais importante do que ficar ativo, movimentar-se e iniciar novas tarefas. É assim que seu foco emocional irá variar.

Para concluir, se você ficar parado e permitir que esses sentimentos de ócio, decepção e tédio constante o envolvam, você não avançará. Há luz no fim do túnel, fale com alguém e deixe-se ajudar. Esse abismo de frustração que o prendeu acabará por desaparecer.

Se você está uma fase em que nada lhe interessa, nada atrai sua atenção e o que antes lhe apaixonava, agora o esgota, não hesite em pedir ajuda especializada.