Aproveite a vida como se fosse seu último minuto. Este conselho motivou um grupo de 28 pessoas a passarem a madrugada deste dia de finados caminhando. Era meia-noite quando se encontraram no posto da entrada da cidade de Siderópolis. Em comboio partiram em direção à Serra do Rio do Rastro, em Lauro Muller. Deixaram os carros no estacionamento da Pousada do Bugio e subiram até o mirante a pé. Um pouco depois das quatro horas da manhã estavam retornando. O percurso de aproximadamente 24 quilômetros, ida e volta, teve 1205 metros de elevação e foi percorrido em quatro horas.
A falta de iluminação não foi problema, apesar da lua cheia estar escondida entre as nuvens. “Resolvemos não esperar o sol nascer e curtir o amanhecer na descida. Na subida suamos, a humidade do ar estava em nossas roupas e ainda molhamos nossos calçados pisando na água que corria sobre a pista. Além de tudo isso, quando paramos nosso corpo esfria e a tendência é sentir dor. Achamos melhor não parar muito tempo”, explicou Josiane Carla Ronsoni, organizadora do Grupo Movimento.
A médica cubana Yennis Smith Diaz Bonassa, 43 anos, pedala pela região na companhia do marido brasileiro, mas ainda não tinha feito uma trilha. Ela trabalhou cinco anos na Venezuela e morando lá sentia vontade de voltar para sua pátria. O Brasil, que conhecia como Gigante da América, quando criança há conquistou porque descobriu que aqui se tem liberdade, melhores condições econômicas e muitas belezas naturais. “Aprendi a andar de bicicleta quando eu tinha 17 anos e houve uma crise em Cuba, na época da Perestroika. Pedalar era uma necessidade por causa da decadência do transporte público e agora é um lazer. Mas, caminhar desse jeito é algo que nunca pensei que ia fazer e foi uma vitória pra mim”, comentou Yennis.
Laura Feltrin Lazzaris, 14 anos, precisou ser persistente para ter a permissão da mãe para acompanhá-la nesta aventura. Ela havia feito apenas uma trilha pelo interior do lugar onde mora. A adolescente adora fotografar o céu. Em seu celular estão inúmeros registros do amanhecer e do entardecer. Enquanto muitos colegas da sua geração não observam a lua e nem sabem da existência das estrelas conhecidas como Três Marias, ela alguns registros numa noite em que marcou sua vida por ter atravessado sem dormir. “No futuro pretendo tatuar um sol atrás da orelha e as quatro fases da lua no braço. Eu amo o céu, eu adorei esta experiência e não quero parar”, concluiu Laura.
Na lista dos interessados em participar da aventura estava Esther Costa, moradora de Morro da Fumaça. Ela desistiu porque sentiu medo da escuridão, de encontrar bichos e de cansar muito rápido. Depois que viu as fotos publicadas, se arrependeu de ter perdido a oportunidade de viver esta experiência.
O Grupo Movimento tem o objetivo de compartilhar experiências enquanto desbravam lugares exuberantes da região. Está aberto aos interessados em acompanhar seus eventos que tenham espírito de coleguismo, parceria e desejo de criar novas amizades. Não é liderado por pessoas interessadas em lucrar com o turismo. Contatos podem ser feito pelo Instagram @gpmovimento.
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ANA LÚCIA PINTRO