O ciúmes envolve um conjunto de emoções, pensamentos, reações físicas e comportamentais
A palavra ciúme tem como significado no dicionário: sentimento causado pelo receio de perder, para outrem, o afeto da pessoa amada. Porém, a palavra, na prática pode significar outras coisas e ser sentida por diversas razões.
Do ponto de vista da psicologia, o ciúmes é aprendido logo na primeira infância. Quando as crianças passam a ter ciúmes dos pais, afinal eles são a primeira referência de afeto que o bebê tem. “A criança passa a disputar a presença dos pais, um exemplo clássico, é quando a família festeja algo, onde há mais pessoas, como os pais passam a dar mais atenção aos convidados, essa criança, como forma de trazer o pai ou a mãe para perto de si, passa a chorar, fazer as famosas ‘birras’ e por ai vai”, menciona a psicóloga Alessandra Martarello.
A psicóloga explica que nessa fase os pais devem começar a educar seus filhos para as possíveis frustrações que virão ao longo da vida. “Afinal, nem tudo é meu e as pessoas ao meu redor não são de minha propriedade. Outro exemplo que muitos de nós já vivenciamos, são as brincadeiras de três ou mais crianças no mesmo espaço. Se esse indivíduo já vem de casa com o sentimento de posse, onde tudo e todos são dele, no primeiro ‘não’ do amiguinho, que preferiu naquele momento brincar com outro, o mundo dessa criança desaba”, pontua Alessandra.
O ciúmes envolve um conjunto de emoções, pensamentos, reações físicas e comportamentais como:
– Emoções – dor, raiva, tristeza, inveja, medo, depressão e humilhação;
– Pensamentos – ressentimento, culpa, comparação com o rival, preocupação com a imagem, autocomiseração;
– Reações físicas – taquicardia, falta de ar, excesso de salivação ou boca seca, sudorese, aperto no peito, dores físicas; e
– Comportamentos – questionamento constante, busca frenética de confirmações e ações agressivas, mesmo violentas.
“Além disso o ciúme está intimamente relacionado à inveja. A diferença é que a inveja não envolve o sentimento de perda presente no ciúme. Mas ambas são um misto de desconforto e raiva e atormentam aquele que cobiça algo que outra pessoa tem. Quanto mais baixa for a autoestima, mais propensa está a pessoa de sofrer com um dos dois sentimentos”, explica a psicóloga.
O ciúmes, quando ultrapassa certo limite, se transforma em patologia, coisa que não acontece com a inveja. “Ciúme e inveja desviam o foco dos cuidados com a própria vida, tão preocupado se fica com a vida de outra pessoa. Por outro lado, se enfrentados, podem levar a atitudes positivas como melhorar a aparência, desenvolver novas habilidades e trabalhar a autoestima”, comenta a psicóloga.
Ciúme patológico
O ciúme patológico é visto pela psiquiatria como um distúrbio mental caracterizado por delírios de perseguição e pelo temor imaginário de a pessoa estar sendo vítima de conspiração. “Para o ciumento, a fronteira entre imaginação, fantasia, crença e certeza se torna vaga e imprecisa, as dúvidas podem se transformar em ideias supervalorizadas ou delirantes”, cita Alessandra.
A pessoa que sente ciúme a esse nível tem a compulsão de verificar constantemente as suas dúvidas, a ponto de se dedicar exclusivamente a invadir a privacidade e tolher a liberdade do parceiro, como: abrir correspondências, bisbilhotar o computador, ouvir telefonemas, examinar bolsos, chegar a seguir o parceiro ou contratar alguém para fazê-lo. “Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida, até o intensifica”, complementa a psicóloga.
Não menos importante é atacar os sintomas físicos que o ciúme patológico provoca. O desequilíbrio no sistema nervoso aumenta o nível de adrenalina, interfere na dinâmica dos neurotransmissores e está na origem de muitas doenças psicossomáticas.
“Por isso, é fundamental que a pessoa assuma seus sentimentos e procure ajuda profissional. A terapia está no topo das alternativas para se trabalhar com esse tipo de sentimento”, concluiu a psicóloga.