JATENE MACEDO – SIDERÓPOLIS NOTÍCIAS
Essa matéria é uma homenagem ao Dia do Biólogo comemorado na última sexta-feira, dia 3.
Biólogo, Zoólogo e Ictiólogo. Caio Roberto Magagnin Feltrin, é um profissional renomado, conhecido pelo vasto conhecimento, pela dedicação e amor à profissão.
Com formação em 2012 pela Unesc, no curso de Ciências Biológicas – Bacharelado, Caio além de ter conhecimento em aves, anfíbios, répteis, mamíferos, além de outros animais, sua principalmente área de atuação é a Ictiologia, o estudo dos peixes.
“Me especializei na Ictiologia pois foi onde me identifiquei mais. O mercado de trabalho também é carente a nível estadual, e ainda hoje acaba não havendo tantos profissionais nessa área. Além disso foi alvo do meu Trabalho de Conclusão de Curso”, explica o profissional.
Hoje Caio é o Ictiólogo que mais conhece os peixes de água doce de Santa Catarina. Ele já percorreu Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, além do Uruguai e Argentina a trabalho e realizando pesquisas.
Amor à Biologia
Caio se considera Biólogo desde os 5 anos, quando a natureza ao seu redor começava a chamar atenção. Uma trilha de formigas carregando folhas, minhocas, pássaros, e principalmente os peixes era a paixão do pequeno garoto.
“Sempre gostei de pescar. Conheço os peixes antes mesmo de estudar eles. Já nasci Biólogo e naturalmente eu criei o gosto por animais, plantas e rios. Recebi muitos incentivos de professores e isso só foi aumentando minha vontade de conhecer ainda mais”, conta Caio.
Trabalho
Caio trabalha com estudos de peixes em licenciamentos ambientais. Analisando as espécies em locais que serão degradados para construção ou implantação de empreendimentos.
“Para o estudo de animais, por vezes é necessário a duração de um ano visitando os locais uma vez por estação. O trabalho consiste em coletar, triar, identificar, estudar, entender relações ecológicas, avaliar ameaças e produzir um relatório que irá ao Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA)”, explica Caio.
O profissional conhece quase 90% das bacias hidrográficas catarinenses. “Todas as bacias hidrográficas costeiras eu conheço. Poucos rios faltam ser explorados. Já trabalhei em quase todos os municípios litorâneos. No Rio Grande do Sul já pesquisei os peixes nos quatro cantos do Estado”, conta Caio.
Desafios
Por atuar em uma área pouco explorada, principalmente em Santa Catarina, o maior desafio de Caio é encontrar pesquisas científicas com peixes de água doce. “Praticamente não existem bibliografias para consultas sobre peixes de água doce de Santa Catarina, e sendo assim, acabei tecendo o próprio conhecimento”, pontua Caio.
A Biologia
A Biologia significa estilo de vida para Caio, ele vive a Biologia diariamente. “Não consigo viver sem reciclar o lixo, eu sou a pessoa que mais recicla em Siderópolis. Sou assíduo pela reciclagem e compostagem de lixo orgânico, e isso também é Biologia. Além disso sou praticante da permacultura – plantio de alimentos e plantas medicinais em um pequeno espaço, planto um pouco de tudo. Não posso passar um dia sem mexer na terra”, explica Caio.
A Ictiologia
“A Ictiologia é o trabalho de uma vida inteira. Nunca medi esforços para estudar e avançar ainda mais na pesquisa dos peixes. Investi na busca pelo conhecimento interligado a coleções científicas nacionais, em Universidades, que guardam peixes há muitas e muitas décadas”, comenta o Ictiólogo.
Caio trabalha com peixes há mais de 10 anos. Além de seu trabalho remunerado, também é pesquisador e deposita peixes nas coleções de Universidades para serem estudados e guardados para a posteridade.
Descoberta do peixinho-das-nuvens Cynopoecilus feltrini
De 2015 a 2016 a vida de Caio mudou. Foi em maio de 2015, em um trabalho, em Laguna, que o profissional descobriu uma espécie de peixe, dentro de uma poça temporária. O peixe recebe o nome de Cynopoecilus feltrini em homenagem ao seu descobridor, Caio Feltrin.
Demorou um ano até que a nova espécie fosse pesquisada e a descrição preparada. “Ter o nome homenageado por uma descoberta de uma espécie, geralmente, é coisa de profissionais mais velhos, e eu ainda muito novo, porém, com muita dedicação, recebi essa honraria”, conta Caio.
Descoberta de mais de 30 espécies
A carreira de pesquisa de Caio só ia aumentando. De 2015 a 2017 o profissional guardou diversos peixes na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e isso foi consolidando uma história. Em 2017 Caio foi contratado para fazer um trabalho em Lages, e na oportunidade acabou coletando um pequeno peixe, conhecido popularmente como Cambeva.
“As Cambevas eram um tipo de peixe que eu já simpatizava bastante, mas, até então nunca havia ido tão afundo na sua pesquisa. Em cada lugar que eu ia acabava encontrando mais e mais desse grupo de peixes e fui entendendo cada vez mais como eles vivem”, explica Caio.
Após mandar diversas Cambevas para pesquisa, Caio recebeu a informação de que possivelmente várias delas poderiam ser espécies novas, ainda não catalogadas pela ciência. Foi então que pesquisadores da UFRJ, onde Caio mandou os peixes para pesquisa, pegaram um dos frascos e perceberam que entre mais de 70 lotes enviados por Caio, um deles não possuía um par de nadadeiras típico daqueles peixes. Depois de analisar o peixe, os cientistas visualizaram a existência de mais outras novas espécies coletadas por Caio.
Foi em novembro de 2020 que nasceu a primeira, e então Caio não mais foi homenageado com seu nome na nomenclatura da espécie, mas desta vez seu nome estava na autoria daquele novo peixe recentemente descrito. “Daqui 100 anos talvez a Cambeva nem exista mais, mas no catálogo de espécies do Brasil, ela ainda existirá, será a Cambeva que o Feltrin descobriu e meu nome está lá”, conta Caio.
Em 2018 Caio descobriu mais duas espécies de Cambeva, uma em Biguaçu e outra em Botuverá que nasceram em 2021. “Eu vivo diariamente essa história surpreendente com minhas descobertas, e depois disso eu nunca mais parei de investigar novos peixes pelo Sul do Brasil. As primeiras espécies descobertas foram em meio a trabalhos remunerados, mas com o passar do tempo também realizo expedições por conta própria para estudar esses peixes. Acabei aguçando ainda mais o cientista que existe em mim”, conta Caio.
Atualmente Caio já descobriu mais de 30 novas espécies de Cambeva, que estão em processo de descrição, onde, além de descobridor é autor.
Educação Ambiental
Segundo Caio é papel de todo Biólogo transmitir conhecimento a fim de propagar a educação ambiental. Esta é uma área ampla e fundamental na sociedade. Caio pratica educação ambiental em diferentes cenários em especial no Movimento Escoteiro, onde atua como Dirigente.
“’O Escotismo é uma escola de cidadania através da destreza e habilidade em assuntos mateiros’, essa é a frase que eu mais me identifico dentre as falas do fundador do escotismo Robert Baden-Powell. O escotismo é a escola da vida, que educa através de práticas na natureza”, conta Caio.
Caio também já explorou a floresta Amazônica. Foi para lá em 2018 para estudar povos tradicionais, chamados de Quilombolas, que são descendentes de escravos que fugiam da vida cruel e se escondiam em moradas na selva (Quilombos). Na oportunidade, pôde entender a relação deste povo com a floresta, seus frutos, a extração de castanha do pará, óleo de copaíba, caju, açaí, entre outros produtos florestais não madeireiros (PFNM’s).
Dentro de dois meses Caio retornará para este estudo e permanecerá um mês com os Quilombolas, aprofundando o entendimento deste povo e a sua relação com a floresta.