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2 em 1 – Bullying e suicídio, que relação pode ter isso?

ALESSANDRA MARTARELLO ALVES
ALESSANDRA MARTARELLO ALVES

Juntando o mês de prevenção ao suicídio com uma situação vivida em minha própria casa, resolvi escrever sobre a gravidade que um bullying pode levar caso não seja resolvido. Para quem não sabe bullying no Brasil, é traduzido como o ato de bulir, tocar, bater, socar, zombar, tripudiar, ridicularizar, colocar apelidos humilhantes etc. Essas são as práticas mais comuns do ato de praticar bullying.

Agora vamos as estatísticas, gosto sempre de mostrar os números, isso da a impressão que as pessoas vendo dados, elas conseguem ver o real problema.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021 mostraram que a prática do bullying ainda é uma realidade no Brasil. De acordo com o levantamento, aproximadamente 23% dos estudantes contaram ter sido vítimas da prática, sendo alvo de provocações feitas por colegas. Além disso, a pesquisa mostrou ainda que um em cada dez dos adolescentes entrevistados – um total de 188 mil jovens – já se sentiu ameaçado, humilhado e ofendido no ambiente das redes sociais ou aplicativos, o que configura o cyberbullying.

Enfrentar essas situações provoca um impacto negativo na vida desses jovens, especialmente em relação à saúde mental. Os resultados revelaram que 50,6% dos alunos se sentiam muito preocupados com questões mais comuns do dia a dia.

Outro dado ainda mais preocupante: um em cada cinco entrevistado afirmou que a vida não valia a pena ser vivida. Olha o suicídio ai batendo na porta. Por isso é tão importante conscientizar a população sobre os riscos da prática e incentivar a luta contra toda e qualquer forma de bullying.

O efeito cascata de relações mau resolvidas pode perdurar pela fase adulta, e esse indivíduo pode nunca conseguir superar esses “maus tratos”, virando um fantasma mental a cada olhar, a cada resposta negativa de emprego ou de qualquer outra relação que essa pessoa possa a vir a ter durante sua vida.

As crianças, apesar de toda a inocência e inexperiência de vida, podem ser os agressores mais cruéis. Suas ações, talvez menos freadas pelas normas sociais que aprendemos mais tarde, podem ser desumanas, violentas e chocantes. E podem ter consequências para o resto da vida das vítimas. Aqui entraria o que eu chamo de “Crianças Espelhos”.

Lembra daquela história de que os filhos são reflexos dos pais? Existem até ditados populares alertando para isso. Quem nunca ouviu a frase “filho de peixe, peixinho é” ou “o fruto não cai longe do pé”?
O problema é que os pais nem sempre se dão conta de que cada um de seus gestos e atos está influenciando o comportamento e a formação do caráter de seus filhos. Ao se esquecerem disso, podem acabar dando mau exemplo à crianças.

Ai eu pergunto: O que você está ensinando para o seu filho(a)?. Qual é o seu comportamento? Vale a pena pensa e refletir sobre isso.

Voltando ao bullying, vamos falar sobre quem é o alvo inicial e qual as consequências desse ato.

O ALVO

O alvo usual do bullying é o tipo de pessoa que não se enquadra nos padrões sociais tidos como normais, por questões físicas, psicológicas ou comportamentais. Geralmente, os agressores procuram alguém que seja diferente para ser a sua vítima: pessoas com excesso de peso ou magras demais, pessoas de estatura menor, pessoas que não se enquadram no padrão de beleza ditado pela sociedade, pessoas de condição socioeconômica inferior, homossexuais, transexuais, pessoas com dificuldade de aprendizagem ou muito estudiosas e por ai vai…o considerado “diferente” pelo grande grupo.

CONSEQUÊNCIAS DO BULLYYING

As consequências do bullying podem ser devastadoras e irreversíveis para a vítima. Os primeiros sintomas são o isolamento social da vítima, que não se vê como alguém que pertence àquele grupo. A partir daí, pode haver uma queda no rendimento escolar, queda na autoestima, quadros de depressão, transtorno de ansiedade, síndrome do pânico e outros distúrbios psíquicos. Quando não tratados, esses quadros podem levar o jovem a tentar o suicídio.
COMO PODEMOS SOLUCIONAR O BULLYING?

A violência não é combatida com mais violência. Às vezes, punições aos agressores são necessárias quando estes extrapolam qualquer limite razoável, porém, na maioria das vezes, os agressores também são jovens que sofrem por algum motivo. Nesses casos, a melhor maneira de solucionar o problema é pelo diálogo e conscientização. É necessário conscientizar aqueles que assistem, repetem ou indiretamente contribuem com o bullying, pois eles também mantêm o sistema de agressividade funcionando.

Para além das campanhas governamentais e não governamentais, é necessário que as famílias unam-se com os profissionais da educação para que todos possam trabalhar na conscientização de seus filhos e no apoio emocional de que as vítimas do bullying necessitam.

LEI SOBRE O BULLYING ESCOLAR

No dia 6 de novembro de 2016, foi sancionada no Brasil a Lei 13.185, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática. A lei composta por oito artigos torna a luta contra o bullying escolar uma política pública de educação e implementa uma série de ações que visam a erradicar o bullying por meio de campanhas publicitárias, capacitação dos profissionais da educação para lidarem com casos de bullying e o diálogo mais estreito entre a escola e a família.

Não permitam que esse fantasma do Bullying entre na casa de vocês. Conversem com seus filhos, essa ainda é a melhor maneira para evitar muitos transtornos futuros.