O inexistente pênalti assinalado por André Luiz Back no último sábado (25), que resultou no gol da vitória do Figueirense sobre o Almirante Barroso escancarou a crise na arbitragem catarinense. Antes dele, Edson da Silva e até mesmo o badalado Bráulio da Silva Machado foram questionados por arbitragens controversas. Dos três, exceto Bráulio não foi afastado.
Mas a discussão sobre a melhora na qualidade da arbitragem precisa ser mais ampla e fugir do lugar comum de afastamentos e punições. É preciso encontrar soluções eficazes, que realmente melhorem a qualidade da arbitragem. O formato atual tratado pela Federação Catarinense de Futebol traz apenas a punição pela punição.
Cheguei a essa conclusão em uma rápida troca de ideias com o ex-braço direito de Delfim de Pádua Peixoto Filho na FCF, Júnior Moresco. Através do Twitter, o ex-dirigente, que comandava a Comissão de Arbitragem vem, “curiosamente”, tendo postura mais crítica ao futebol local desde que foi demitido da federação. No sábado, não foi diferente.
Como não foi a primeira vez que o vi com esses questionamentos, decidi rebater e citei que os erros de arbitragem acontecem há anos no futebol catarinense e que o buraco é mais fundo, tornando-se simples minimizar as falhas aos dias atuais. Iniciamos uma rápida discussão, que acabou não indo a lugar algum (até porque Moresco entendeu que o problema era pessoal), mas que mostrou que a ideia principal dele era tirar os árbitros da escala para minimizar os erros.
Ele citou o exemplo de Bráulio, que teve questionada atuação em Joinville 1×0 Criciúma, e logo foi escalado para apitar Chapecoense e Avaí, na rodada seguinte. Moresco não considerava justo e argumentei que não fazia sentido tira-lo da escala, que seria algo paliativo. E olha só que coincidência: Bráulio passou despercebido no jogo em Chapecó e foi eleito o árbitro da rodada. Adiantaria algo tira-lo da escala?
Parto da premissa de que ao tirar um árbitro da escala, quem virá em seguida é alguém inferior. Ou seja, a tendência é o nível cair. É uma medida meramente paliativa e que de nada adianta.
A FCF, ao lado dos clubes e também da imprensa, precisa ampliar o debate para outras esferas. Só punir não adianta. O árbitro deixa de errar hoje, mas vai errar no jogo seguinte. É preciso capacita-los e tentar torna-los mais profissionais. Claro, a mudança parte do Brasil inteiro, de uma demanda nacional mesmo e até com a inclusão da tecnologia, mas dá para iniciar alguns passos em âmbito local.
Hoje, eles são punidos e fica por isso mesmo. Alguns são profissionais da área da educação física, outros são professores, advogados, enfim, todos possuem outras ocupações diárias e a arbitragem fica em segundo plano, quase como um hobbie. Coloca-los na popular “geladeira” tem pouco efeito prático e não contribui em nada com a formação deles.
Aliás, colocar na mesma vala punições a árbitros e atletas e treinadores também beira a ingenuidade. Os profissionais dos clubes vivem do futebol e sentem o peso das punições. Além disso, eles são os executores de uma partida, enquanto os árbitros são meros mediadores. O jogador que é punido por uma entrada violenta ou o técnico suspenso por falar além da conta, normalmente tem a intenção de fazer isso, ou seja, de executar tal ação. O árbitro, salvo má-fé, não pode entrar em campo com vontade de fazer alguma coisa. Ele está lá para mediar a partida. Seus erros são por defeitos técnicos e situações de jogo, e não por questões pré-dispostas.
O debate é amplo e não pode ser resumido a punir ou não punir. Os árbitros, tão contestados, são vítimas tanto quanto os clubes que perdem jogos pelos erros deles. Parece contraditório, mas é verdade. Estamos cobrando de forma efusiva pessoas que sequer são profissionais naquela função. É preciso cobrar os erros, é claro, mas é preciso exigir dos dirigentes qualificação dos árbitros para minimizar os erros, porque enquanto uns vão para as trincheiras, quem realmente tem poder para mudar ficar no quartel somente ordenando.