Saúde

Desde quando existe a depressão?

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Psicóloga relembra como a doença era tratada antigamente, quais os sintomas e tratamento

Hoje em dia ouve-se muito a palavra depressão, mas o que as pessoas mais velhas contam é que, antigamente a doença não era tão comentada assim. Os sintomas é claro que já existiam, sono excessivo, alimentação inadequada, propensão ao suicídio, afastamento da interação social e o desespero incessante. O que mudou mesmo foi a forma de tratamento em relação a doença.

“Infelizmente a grande maioria das pessoas ainda acha que a depressão é uma doença moderna, o que é um grande erro. Samuel Beckett já falava a respeito: ‘As lágrimas do mundo são em quantidade constante’. A forma e a particularidade da depressão já passaram por mil reviravoltas, e o tratamento da doença alternou-se entre o ridículo e o sublime, sendo tão antigos quanto as tribos das montanhas, se não tão antigo quanto a própria montanha”, disse a psicóloga Alessandra Martarello.

Como era antigamente

Na idade média, a depressão era vista como a manifestação da hostilidade de Deus. Foi nessa época que quem sofria dela era tratado como infiel. Foi no Renascimento que a depressão passou a se chamar de “Melancolia”, romantizando a doença, cuja a apatia significava insight e a fragilidade era o preço pago pela visão artística e a complexidade da alma.

No fim do século V a.C, Hipócrates já declarava ser a depressão uma doença mental e emocional. Ele dizia: “É o cérebro que nos deixa loucos ou delirantes, nos inspira com horror e medo, seja noite ou dia, traz-nos a insônia, os equívocos inoportunos, as ansiedades sem alvo, a desatenção e os atos contrários ao hábito. Essas coisas de que todos sofremos vêm do cérebro quando este não está saudável”.

Hipócrates achava que a melancolia mesclava fatores internos e ambientais. Em Platão, se originou o modelo de desenvolvimento que sugeria que a infância de um homem pode determinar a qualidade de seu caráter adulto.

“Os médicos da época começaram a propor tratamentos para a melancolia um tanto quanto estranhos. O médico Filotimo, tendo notado que muitos depressivos se queixavam de ‘uma cabeça leve, como se nada existisse nela’, pôs então, um capacete de chumbo em seus pacientes para que tivessem consciência de suas cabeças”, relembrou a psicóloga.

Crisipo de Cnido, médico grego, acreditava que a resposta para a depressão era o consumo maior da couve-flor, e advertia contra o manjericão, que ele afirmava causar loucura. Já Rufo anotava os sintomas físicos do que agora conhecemos como hipotireoidismo, um desequilíbrio hormonal, cujos sintomas são semelhantes aos da depressão. Ele achava que a melancolia era a princípio causada por carnes pesadas, exercício inadequado, excesso de vinho tinto e esforço intelectual desordenado.

“Outros médicos propunham todo tipo de tratamento: correntes e punições, um cano pingando água ao lado do melancólico até que ele dormisse, uma dieta com alimentos de cores claras e até leite humano”, explicou Alessandra.

Na Grécia Antiga, no século II d.C, o médico Areteu dizia que: “o melancólico se isola, tem medo de ser perseguido e aprisionado; atormenta-se com ideias supersticiosas; sente-se aterrorizado; transforma suas fantasias em verdades; queixa-se de doenças imaginárias; amaldiçoa a vida e deseja morrer. Acorda subitamente e é preso em um grande cansaço”.

Pulando para o século XVI, muitos dos escravos que eram trazidos de suas colônias na África, ao chegar no Brasil, apresentavam sintomas de uma doença chamada “banzo”. Que era como se chamava o sentimento de melancolia em relação a terra natal e de aversão à privação da liberdade praticada contra a população negra. Banzo nada mais era do que a depressão.

“Ao estudarmos a história da doença depressão, percebemos que o relato dos sintomas era, e ainda é, unanime entre todos que se envolviam de alguma forma com a doença, seja como paciente ou médico”, pontuou a psicóloga.

Foi em 1953 que a primeira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) foi publicada pela Associação Psiquiátrica Americana (APA), sendo o primeiro manual de transtornos mentais.

“Hoje já temos o DSM V onde os Transtornos Depressivos ganharam novos diagnósticos, levantando discussões sobre a ‘patologização’ de reações normais e a superestimativa do número de casos de depressão”, apontou Alessandra.

Os sintomas da depressão são:

– Humor depressivo; sensação de tristeza; autodesvalorização e sentimento de culpa.

– Retardo motor, falta de energia; preguiça ou cansaço excessivo;

– Falta de concentração e de memória;

– Lentidão nos pensamentos;

– Insônia ou sonolência;

– Alteração no apetite;

– Redução do interesse sexual;

– Dores e sintomas físicos como mal estar; queixas digestivas; dor no peito; taquicardia e sudorese.

“O tratamento pode ser medicamentoso, depende do grau dos sintomas que o paciente apresenta, além da psicoterapia. Uma vez iniciado o tratamento (medicamentoso e psicoterápico) é de fundamental importância a adesão, porque uma vez interrompido por conta própria ou uso inadequado da medição, pode aumentar significativamente o risco de cronificação”, concluiu a psicóloga.

A depressão existe desde que o mundo é mundo. É uma doença e que pode levar ao suicídio e tem tratamento. Não desista de você. Você é importante na vida de alguém.

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JATENE MACEDO E LARISSA WITT – JORNALISMO SATC